terça-feira, 6 de dezembro de 2011

School of Funk-Jazz - Kashmere Stage Band

Na escola onde estudei não tinha aula de música (na verdade tinha uns manés que tocavam flauta doce, melhor dizer que não tinha aula de música que a galera tivesse vontade de fazer). Ao entrar em contato com músicos lá da Escola de Pirações e Artes e mergulhar nesse mundo (embora confesso envergonhado que não sei tocar nenhum instrumento propriamente dito), vi o quanto isso me fez falta. Não digo que todo moleque vai ter talento e força de vontade para ir nesse caminho sem volta de ritmos, melodias e harmonias, mas o aspecto didático da música e sua força para extrair a parte positiva da energia que emana de crianças e adolescentes é inegável. Aqui no Braza projeto de aulas de músicas nas escolas ainda engatinha, mas lá na gringolândia o negócio é mais tradicional. A maioria fica naquele esquema coral e fanfarra pra animar os jogos de futebol americano, mas a riquíssima tradição da música negra americana faz surgir coisas maravilhosas como essa Kashmere Stage Band.

Hoje os corais tipo GLEE são febre, mas lá nos anos 60 as tradicionais stage bands, big bands estudantis das High School americanas também tinham seus concursos regionais e nacionais. A Kashmere High School, localizada num subúrbio negro de Houston, Texas, tinha muito material humanos de garotos e garotas de cabelos black power e que estavam pirando no insano funk psicodélico da época, de carinhas como Sly Stone e George Clinton e seu funkadelic, além das pirações fusion de Miles Davis e Herbie Hancock. E tinham o professor certo: Conrad O. Johnson, apelidado apenas de "Prof". Músico tarimbado que já tocara com Count Basie, Prof. nunca deixou de ouvir a evolução da música negra, e naquele momento a funkeira nervosa era o que os moleques ouvirm, então deixou que eles a tocassem. Mas com uma condição: eles tinham que se tornar a melhor Stage Band do país, indiscutivelmente.

Parece enredo daqueles filmes de superação do grupo de garotos largados que com um professor inspirador (que pode ser interpretado por Samuel L. Jackson, Denzel Washington ou Morgan Freeman dependendo da idade), mas é real, e virou um documentário que parece ser bem legal, saca só o trailer.


Os shows da Kashmere Stage Band eram lendários, e eles gravaram altos sons, que so foram lançados recentemente, reunidos no álbum duplo Texas Thunder Soul (1968-1974), mesmo nome do documentário. No filme, aliás, os membros da big band se reúnem, e eles resolveram continuar tocando, depois de tantos anos!


enquanto algum ser iluminado não traz os agora tiozões do jazz-funk ao Brasil, ouve ae o Texas Thunder Soul. Inclui temas próprios e versões cabulosas de clássicos como Take Five e o tema de Shaft. Link respeitosamente puxado do grande SaravaClub*


Kashmere Stage Band - Texas Thunder Soul (1968-1974)

 Disco 1

01 - Boss City
02 - Burning Spear
03 - Take Five
04 - Super Bad
05 - Keep Doing It
06 - Thunder Soul
07 - Do You Dig It, Man?
08 - Headwiggle
09 - Al's Thing
10 - Do Your Thing
11 - Scorpio
12 - All Praises
13 - Shaft
14 - Kashmere
15 - $$ Kash Register $$
16 - Zero Point Pt. 1 & Pt. 2 (45 Version)
17 - Getting It Out Of My System

Ouveaê!

Disco 2

01 - Intro
02 - Zero Point
03 - All Praises/Zero Point (Reprise)
04 - Intro
05 - Do You Dig It, Man?
06 - Don't Mean a Thing
07 - Thank You
08 - Ain't No Sunshine
09 - Do You Dig It, Man?
10 - All Praises (Live)
11 - Thank You (45 Version)
12 - Zero Point (LP Version)
13 - Do Your Thing (Instrumental)
14 - Getting It Out of My System

Ouveaê!





quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sabotage - Rap é Compromisso (2001)

Se o Quinto Andar é um dos elos perdidos do rap nacional, Mauro Mateus dos Santos sem dúvida é outro. Junto com nomes como RZO e SNJ Sabota personifica esse rap de transição, pós Sobrevivendo no Inferno, na virada dos 90s pro nosso século. Sua história e sua estúpida morte são simbólicas. Sem muito papo, ouve o som ae pq o rap é compromisso! Mando com um salve ao Bigode!

Sabotage - Rap é Compromisso (2001)


01 - Intro
02 - Rap é compromisso
03 - Um Bom Lugar
04 - No Brooklin
05 - Cocaína
06 - Zona Sul
07 - A Cultura
08 - Incentivando o Som
09 - Respeito é pra Quem Tem
10 - País da Fome
11 - Cantando pro Santo

Ouveaê!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Native Brazilian Music - Registro Histórico da Música Brasileira!


Em 1940 o Brasil viva sob o Estado Novo de Getúlio Vargas e era um país essencialmente rural de 40 milhões de pessoas. Adolf Hitler estava conquistando a Europa e a ditadura de Vargas estava perigosamente próxima do Eixo nazi-facista. A capital política e cultural brasileira era o Rio de Janeiro, onde se desenvolvia a música que viria a ser a música popular brasileira, sob a égide do samba. Heitor Villa-Lobos, que já tinha reconhecimento internacional por suas composições eruditas com influência da música brasileira de raiz, conhecia muito bem os músicos de samba, choro, embolada, rancho, batucada, macumba, que ainda eram vistos como marginais pela sociedade.

Neste período, os EUA ainda não haviam entrado na guerra, mas sabiam que mais cedo ou mais tarde isso era inevitável. E iniciaram a chamada "política da boa vizinhança para trazer para o seu lado as nações do continente americano. (Além do Brasil, a Argentina também estava perigosamente próxima de Hitler.) Fizeram isso com missões de suas principais figuras culturais para o cone sul. As mais ocnhecidas foram a passagem de Walt Disney e Orson Welles, que geraram respectivamente o personagem Zé Carioca e o malfadado documentário It's All True. Menos conhecida mas talvez mais histórica foi a passagem do maestro Leopold Stokowski, o mesmo que regeu a trilha de Fantasia. Isso porque, sob encomenda da gravadora Columbia, Stokowski montou um estúdio de gravação no S.S. Uruguay, o navio que o trouxe, e pediu para Villa-Lobos reunir a nata da música brasileira para uma sessão de gravação a bordo do navio. Ele chamou Donga, Zé Espinguela e Cartola, que chamaram os amigos. Assim se juntaram Pixinguinha, João da Bahiana, Zé da Zilda, Jararaca e Ratinho e Luiz Americano, além de instrumentistas, a vocalista Janir Martins e cantores do Coral Orfeão Villa-Lobos. Numa noite de agosto de 1940, eles subiram a bordo do Uruguay e realizaram o que talvez sejam as gravações mais históricas da música de raiz brasileiras.

Essas gravações quase foram perdidas e a história de sua busca é quase tão curiosa quanto a própria história de seu registro em 1940. A jornalista americana de alma brasileira Daniela Thompson conta toda a história magistralmente. O que nos resta é apenas ouvir esses registros históricos, devidamente preservados para a posteridade no Registro Histórico da Biblioteca do Congresso dos EUA.


Native Brazilian Music - Vários Artistas - Direção: Leopold Stokowski (1942)

1 Macumba De Oxóssi – Zé Espinguela – (Donga & José Espinguela) (2:24)
2 Macumba De Iansã – Zé Espinguela – (Donga & José Espinguela) (2:25)
3 Ranchinho Desfeito – Mauro César & Pixinguinha – (Donga, De Castro E Souza & David Nasser) (2:25)
4 Caboclo Do Mato – João Da Baiana & Janir Martins – (Getúlio Marinho Da Silva “Amor”) (2:37)
5 Seu Mané Luiz – Zé Da Zilda & Janir Martins – (Donga & J. Cascata) (2:45)
6 Bambo Do Bambu – Jararaca E Ratinho & Laurindo Almeida – (Donga) (2:19)
7 Sapo No Saco – Jararaca E Ratinho – (Jararaca) (2:28)
8 Que Quere Que Quê – João Da Baiana – (João Da Bahiana, Donga & Pixinguinha) (2:42)
9 Zé Barbino – Pixinguinha & Jararaca – (Pixinguinha & Jararaca) (2:32)
10 Tocando Pra Você – Luiz Americano – (Luiz Americano) (2:21)
11 Passarinho Bateu Asas – Zé Da Zilda & Pixinguinha – (Donga) (2:25)
12 Pelo Telefone – Zé Da Zilda & Pixinguinha – (Donga) (2:26)
13 Quem Me Vê Sorrir – Cartola – (Cartola & Carlos Cachaça) (2:23)
14 Teiru – Quarteto Do Coral Orfeão Villa-Lobos – (Tradicional & Heitor Villa-Lobos) (2:08)
15 Nozani-Ná – Quarteto Do Coral Orfeão Villa-Lobos – (Tradicional & Heitor Villa-Lobos) (0:45)
16 Cantiga De Festa – Zé Espinguela – (Donga & José Espinguela) (2:27)
17 Canidé Ioune – Quarteto Do Coral Orfeão Villa-Lobos – (Tradicional & Heitor Villa-Lobos) (2:40)

Ouveaê!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Green Day roots

Pra quem não sabia, antes de estourar nas paradas com o notório Dookie, o Green Day já praticava seu punk-pop peculiar na Lookout Records, (ex-)casa de artistas como Operation Ivy, Screeching Weasel, The Queers, Avail, Cringer, Pansy Division dentre outras. Em 1990 saiu essa coletânea com o 1o álbum, 39/Smooth mais os EPs Slappy e 1,000 hours.

Faixas:

1 At the Library
2 Don't Leave Me
3 I Was There
4 Disappearing Boy
5 Green Day
6 Going to Pasalacqua
7 16
8 Road to Acceptance
9 Rest
10 The Judge's Daughter
11 Paper Lanterns
12 Why Do You Want Him?
13 409 in Your Coffeemaker
14 Knowledge
15 1,000 Hours
16 Dry Ice
17 Only of You
18 The One I Want
19 I Want to Be Alone


OUVEAÊ!


Em 1992 sai o 2o álbum, Kerplunk. Os caras mais velhos, mais parecido com o Green Day do Dookie...

Faixas:

1 2000 Light Years Away
2 One for the Razorbacks
3 Welcome to Paradise
4 Christie Road
5 Private Ale
6 Dominated Love Slave
7 One Of My Lies
8 80
9 Android
10 No One Knows
11 Who Wrote Holden Caulfield?
12 Words I Might Have Ate
13 Sweet Children
14 Best Thing in Town
15 Strangeland
16 My Generation

OUVEAÊ ESSA BODEGA

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Quinto Andar - Piratão (2005)

O novo rap brasileiro teve sua consagração final na semana passada com Criolo e Emicida passando a rapa nos prêmios do VMB. Entre a geração dos Racionais MC's e essa galera cria da Rinha de MC's há um elo perdido: o Quinto Andar. Coletivo de MC's de várias cidades, formado nos fins do século 20 e possibilitado pela então relativamente novidade INTERNET, amigos unidos pelo interesse no Rap que compartilhavam suas mixtapes caseiras, o Quinto Andar acabou em 2005, cada um indo prum lado, mas deixaram de legado esse discaço chamado Piratão. A formação mutante do Quinto Andar tinha, entre outros, Marechal, Shawlin, De Leve, Kamau, Castro, Lumbriga, Gato Congelado, King e Primo. Alguns foram pra frente, os paulistanos Marechal e Kamau se integraram à turma da Rinha, e o talentoso e bem-humorado De Leve seguiu bem sucedida carreira solo.

E taí o que torna o Quinto Andar um elo perdido e caso único no rap nacional. O BOM HUMOR. Desculpaí galera deslumbrada pelo Criolo e Emicida, eles mandam bem e tal, os discos são muito bem produzidos e uma bem-vinda mudança nos rumos do rap e tal, mas falta bom humor e sobra "se levar a sério demais" nas rimas dos caras. Já nesse Piratão não falta crítica social, seriedade, mas rola uma zoeira que dá toda a graça, em faixas como a impagável faixa-título Melô do Piratãocom o toque BATIDÃO e participação do LOBÃO, que lançou o disco pela sua revista OutraCoisa, e também em Melô do Vacilão, Rap do Calote e a hilárioa Cara de Cavalo Encontra de Leve. A seriedade aparece em Vive pra Servir, Serve pra Viver, Esse Planeta e a mescla de boas bases, rimas espertas, samples comédia, crítica e bom humor dá o tom das 18 faixas desse grande elo perdido do rap brasileiro.
Se liga ae no clipe de "Melô do Piratão".


e vai o disco completo

Quinto Andar - Piratão (2005)

01 - Oqueéoquintoandar
02 - Rap do calote
03 - Funk da Secretária
04 - Melô da Propaganda
05 - Pra falar de amor
06 - Cara de Cavalo encontra De Leve
07 - Montagem da Bandeira
08 - Esse Planeta (Velhos Bons Tempos)
09 - Vive pra servir, serve pra viver...
10 - Melô do Piratão
11 - Ritmo do nosso País
12 - Madruga
13 - A 1 Passo do Paraíso
14 - Muita Falta de Anti-profissionalismo Dub
15 - $$$
16 - Melô dos Vacilão
17 - Contratempo
18 - Meu Amor Não me Abandone

Ouveaê!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Hasoumi Hosono - Hosono House (1973)

Hasoumi Hosono é um japa mucho loco. Nascido em 1947 em Tóquio, é dono de uma daquelas carreiras ecléticas que viu de tudo um pouco, da bossa nova ao eletrônico, do psychedelic rock ao jazz... e Hasoumi-San tá até hoje pintando e bordando por aquelas bandas, com um álbum novo lançado em 2011. Hosono também foi um dos pioneiros da música eletrônica no Japão, mas isso foi bem depois desse álbum, já como membro da banda Yellow Magic Orchestra. Escolhi esse álbum aqui porque tem algo que não transparece tanto nos demais trabalhos mais eletrônicos que ele fez, que é um motherf*cking GROOVE. Meio jazz, meio blues, até tem uma faixinha bossa-novística e outra meio folk. É até curioso que tanto ritmo junto esteja em um só álbum. Mas acho que é isso que de certa forma até resume a carreira dele (olha eu pagando de conhecido), que como eu já disse antes passeou por vários gêneros ao longo de sua vida. Fica aqui também uma homenagem a toda a japonesada que desembarcou por aqui, desde o Kasatu Maru até os grandes companheiros Kentaro-san e Ami-san, que caíram sem querer na Escola de Pirações e Artes da USP em meados da década dos 2000s e viraram mais brasileiros que muito brasileiro por aí. Ouveae!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Jazz Jamaica All-Stars - Blue Note Blue Beat - The Jamaican Beat


Sim crianças, é isso mesmo: clássicos do jazz com roupagem jamaicana, cortesia do baixista Gary Cosby e seus comparsas do Jazz Jamaica All-Stars, que já haviam feito a sensacional "Skaravan", versão de Caravan do Duke Ellington. Se liga:


Em dois volumes, temas geniais de John Coltrane, Miles Davis, Herbie Hancock, Dave Brubeck, Art Blakey e outros bambas recebem pitadas de ska e reggae, sem perder sua genialidade. Alegria pura! (Links surrupiados do ótimo blog de reggae e afins Oficina de Macacos)

Jazz Jamaica All-Stars - Blue Note Blue Beat - The Jamaican Beat - Vol. 1

01 - Three Blind Mice
02 - Cantaloope Island
03 - You`d Be So Nice To Come Home To
04 - Recado Bossa Nova
05 - Witch Hunt
06 - Little Melonae
07 - Watermelon Man
08 - Moanin'
09 - Take Five
10 - A Night in Tunisia
11 - The Sidewinder
12 - Song For My Father
13 - Christo Redentor


Ouveaê!
(senha: oficinademacacos.blogspot.com)

 Jazz Jamaica All-Stars - Blue Note Blue Beat - The Jamaican Beat - Vol. 2

01 - Bemsha Swing
02 - Mr. PC
03 - Misty
04 - So What
05 - 4 on 6
06 - Well You Didn't
07 - Five Spot After Dark
08 - It Don't Mean a Thing
09 - Birdland
10 - Take the 'A' Train
11 - Moonlight in Vermont
12 - Eastern Standard Time

Ouveaê!
(senha: oficinademacacos.blogspot.com)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Bebop + Bluegrass com Béla Fleck e seus Flecktones!

O novaiorquino Béla Fleck, batizado em homenagem ao compositor erudito húngaro Béla Bartok, era um moleque de 15 anos quando descobriu com a Ballad of Jed Clampett de Flatt & Scruggs e os Dueling Banjos de Eric Weissberg e Steve Mandell as possibilidades do BANJO, instrumento típico do bluegrass, um dos estilos musicais mais roots dos EUA. Depois de aprender o instrumento, descobriu como espandir ainda mais suas possibilidades após uma intensa sessão de bebop com gênios do porte de Charlie Parker, Miles Davis e John Coltrane. O resultado: Fléck é hoje considerado o principal tocador de banjo do mundo e seus trabalhos vão do bluegrass mais tradicional ao jazz progressivo mais viajante, passando por JOHANN SEBASTIAN BACH, como vocês podem ver nesse videozinho:



Em 1989 Fléck foi convidado pela rede de TV pública PBS para tocar em um especial e reuniu um Dream Team de músicos que também expandiram os limites de seus instrumentos: o multiinstrumentista Howard Levy, que tocava gaita, ocarina e piano, entre outros instrumentos, e os irmãos Wooten: o monstro baixista Victor Lemont Wooten e o baterista Roy "Future Man"Wooten que tocava a "drumitar", um curioso híbrido de guitarra e bateria eletrônica. Eram os Flecktones. Que ainda estão na ativa e, pô, podiam vir pruns shows no Sesc ou algo assim...

sem mais delongas, jogo na roda os dois primeiros discos dos Flecktones, que são pura alegria com sua divertida e impecável mistura de bebop, bluegrass e psicodelia cósmica. Enjoy!

Béla Fleck and the Flecktones - Béla Fleck and the Flecktones (1990)

01 - Sea Brazil
02 - Frontiers
03 - Hurricane Camille
04 - Half Moon Bay
05 - The Sinister Minister
06 - Sunset Road
07 - Flipper
08 - Space is a Lonely Place
09 - They're Here
10 - Reflections of Lucy
11 - Tell It to the Governor

Ouveaê!

Béla Fleck and the Flecktones - Flight of the Cosmic Hippo (1991)


01 - Blu-Bop
02 - Flying Saucer Dudes
03 - Turtle Rock
04 - Flight of the Cosmic Hippo
05 - The Star Spangled Banner
06 - Star of the County Down
07 - Jeckyll and Hyde (And Ted and Alice)
08 - Michelle
09 - Hole in the Wall
10 - Flight of the Cosmic Hippo (Reprise)

Ouveaê!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Beck - Odelay (1996)


O resgate dos sons que definiram a gloriosa década de 90 continua por aqui. E este segundo disco do grande BECK, lançado em 1996, é um dos mais emblemáticos da década. E não só porque eu comprei ele quando tinha meus 15 anos, importado, na London Calling, durante um passeio pelo centro numa tarde nublada, por algo em torno de R$ 23, e o ouvi obsessivamente naquela época, junto com outros marcos como o OK Computer e o Mellon Collie.

Beck, filho de um arranjador/maestro erudito e de uma habitué do mítico estúdio Factory, de Andy Warhol, cresceu envolto em arte e bons sons. Largou a escola e foi hardeirar pelas ruas de Los Angelas com sua viola, influenciado pelo chamado anti-folk da época. Estourou com o HINO DE UMA GERAÇÃO 'Loser', em 1994. No ano seguinte se trancou no estúdio com os produtores Dust Brothers (de Paul's Boutique' dos Beastie Boys) e emergiu com esta pequena obra prima.

Bem no cilma 'pós-tudo'de referências que já havia em Paul's Boutique e no contemporâneo Endtroducing, do DJ Shadow, Odelay mescla neo-folk, indie noise, hip hop e pitadas de bossa nova.  Apesar desta aparente esquizofrenia sonora, o resultado é coeso, com um estilo bem definido. Uma impressionante colagem de samples é unida com a cola dos vários instrumentos que Beck toca.

Abre com a sensacional e groovy 'Devil's Haircut', sampleando James Brown. 'The New Pollution', com uma levada surrupiada de 'Taxman', dos Beatles e o funky-hop 'Where's At' são os outros hits, mas o disco é todo bom. (E a capa é bem loca) E ouvindo agora em 2011 soa tão bem quanto em 1996, quando eu era bem mais jovem e impressionável.

Beck - Odelay (1996)

01 - Devil's Haircut
02 - Hotwax
03 - Lord Only Knows
04 - The New Pollution
05 - Derelict
06 - Novocane
07 - Jack-Ass
08 - Where It's At
09 - Minus
10 - Sissyneck
11 - Readymade
12 - High 5 (Rock the Catskills)
13 - Ramshackle

Ouveaê!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Viajando no trip hop com Portishead e Massive Attack

Mais um post temático, e mais um resgatando o Lado B da década de 90. Desta vez vamos viajar no Trip Hop, um dos subgêneros mais legais que as Ilhas Britânicas produziram na confusa última década do século 20. Legítimo produto do underground sombrio e chuvoso da Inglaterra, o trip hop é basicamente um hip hop mais lento, climático e eletrônico, com pitadas de dub e geralmente lânguidos vocais femininos. Portishead e Massive Attack são os nomes mais conhecidos, e jogo aqui os discos mais conhecidos de cada.

Portishead - Dummy (1994)


Blue Lines, lançado pelo Massive Attack em 1991, é considerado o marco zero do Trip Hop. Três anos depois, o Portishead, grupo da vocalista Beth Gibbons e dos magos dos sintetizadores Geoff Barrow e Adrian Utley adicionou acid house, cool jazz e um clima de trilha sonora à sonoridade dub e e beats de hip hop do primeiro disco do Massive Attack, e criou uma pequena joia de músicas repletas de atmosfera esfumaçada e sensual em seu disco de estreia. A música mais conhecida é Glory Box, que por uma dessas coincidências cósmicas usa o mesmo sample (Ike's Rap, do Isaac Hayes) que 'Jorge da Capadócia', primeira faixa do clássico 'Sobrevivendo no Inferno', dos Racionais MC's. Outros destaques são 'Sour Times' e 'Numb', mas as 11 faixas formam um conjunto harmônico que faz desse disco um dos melhores e mais influentes dos nineties.

Faixas: 
01- Mysterions
02 - Sour Times
03 - Strangers
04 - It Could Be Sweet
05 - Wandering Star
06 - It's a Fire
07 - Numb
08 - Roads
09 - Pedestal
10 - Biscuit
11 - Glory Box

Ouveaê!

Massive Attack - Mezzanine (1998)


O Massive Attack é o grupo decano da onda Trip Hop, mas seu MAGNUM OPUS veio 'apenas' em 1998. A história do trio formado por MUSHROOM, DADDY G E 3D, remonta a 1983, quando surgiu o Wild Bunch, coletivo de DJs pioneiro em mesclar Punk Rock, Reggae, e R&B que com formação mutante que incluiu ainda TRICKY, fez história na cena noturna da soturna cudade de Bristol, no sul da Inglaterra. 

O Massive Attack mesmo começou em 1987, e em 1991 lançaram o marco 'Blue Lines'. Em 1998 já eram muito conhecidos e respeitados e ganhando bastante dinheiro, mas uma certa TENSÃO pairava entre os três em relação aos rumos do trio. O segundo disco, 'Protection', tinha sido um sucesso com um som jazzy e sofisticado, perfeita trilha para comerciais e ambientes COOL em geral. 3D e Daddy G recrutaram o produtor Neil Davidge, querendo dar outro rumo ao som da banda. Mushroom estava descontente e acabou saindo do grupo logo depois. O resultado desta tensãofoi um disco que, além de uma impressionante coleção de samples, traz uma guitarreira post rock APOCALÍPTICA que deusnoslivre, principalmente na faixa de abertura, 'Angel', com vocais do colaborador habitual Horace Andy . Mas quem dá o tom SOMBRIO do disco é mesmo o vocal de Elizabeth Frazer, do Coclteau Twins, que canta em 'Teardrop', maior hit do disco. 'Inertia Creeps' traz um sabor oriental, e 'Black Milk' transpira sexualidade. Mas a faixa-título 'Mezzanine' é a que melhor EPITOMIZA o espírito do álbum

Faixas: 

01 - Angel
02 - Ringson
03  Teardrop
04 - Inertia Creeps
05 - Exchange
06 - Dissolved Girl
07 - Man Next Door
08 - Black Milk
09 - Mezzanine
10 - Group Four
11 - (Exchange)


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Um trio do barulho: Bowie, Pop e Reed

Eu queria ser o carta que tá atrás dessa foto aí, ele parece estar se divertindo. Afinal, tá junto de três dos caras mais insanamente fodas que a música viu nestas últimas quatro décadas. Tudo desde então dentro do espectro do rock and roll levado à sério (no bom sentido) deve muito a David Bowie, Iggy Pop e Lou Reed. Esse trio deve ter feito umas baladas bem sem noção durante a década de 70, enquanto produziam seus melhores e mais experimentais trabalhos, que deram o tom dark/glam dos anos pós-hippies, e destoaram da papagaiada progressiva/grandiloquente que dominava o rock na época. 

Os três trabalharam juntos muitas vezes, principalmente Bowie e Iggy na lendária BERLIN ERA, onde os dois jovens mandaram ver na HEROÍNA e no EXPERIMENTALISMO. Desta época são os revolucionários The Idiot, do ex-Stooge, e Low, do ex-Ziggy Stardust. Ambos são de 1977, com o punk já como uma realidade, mas tem no experimentalismo proto-eletrônico e melodias dissonantes sua característica principal . 

O Berlin de Lou Reed veio um pouco antes, em 1973, afinal ele é um pouco mais velho e desbravou território antes do inglês Bowie e do nativo de MICHIGAN Iggy. Mas a ópera rock sobre um casal drogado é meio mala na real, então fiquei com o FUNDAMENTAL 'Transformer', feito um ano antes. Vamos ver se esse post terá problemas com o pessoal das GRAVADORAS!

Lou Reed - Transformer (1972)

O que dizer de 'Transformer'? Segundo disco solo de Reed pós Velvet Underground (primeiro só com material pós Velvet), tem só 'Walk on the Wild Side', além de abrir com 'Vicious e ter 'Sattelite of Love', 'Perfect Day' e outras pepitas. A situação tensa de Nova York no início dos anos 70, com drogas e putaria pesada, e as referências aos travecos, fizeram desse disco um marco. Foi produzido por um Bowie em plena fase andrógina Ziggy Stardust, e pelo guitarrista Mick Ronson, dos Spiders from Mars. 

Lado A: 
01 - Vicious 
02 - Andy's Chest
03 - Perfect Day
04 - Hanging Around 
05 - Walk on the Wild Side

Lado B:
06 - Make Up
07 - Satellite of Love
08 - Wagon Wheel
09 - New York Telephone Conversation
10 - I Am So Free
11 - Goodnight Ladies


Iggy Pop - The Idiot (1977)


Em 1976 a IGUANA Iggy Pop estava tentando sair do vício pesado e se instalou em Berlin. Os Stooges já eram, e o amigo David Bowie também estava instalado na cidade alemã (numa época com o Muro de Berlin lá e uma cena musical/cultural MUTHOLOCA que envolvia o experimentalismo eletrônico de Neu, Can e Kraftwerk). Bowie então produziu esse álbum emblemático de Iggy, experimental na veia, com uma mistura from hell de Kraftwerk e James Brown (!!!) em faixas como 'Nightclubbing' e a clássica 'China Girl', composta por Bowie. 

Lado A: 
01 - Sister Midnight
02 - Nightclubbing 
03 - Funtime
04 - Baby
05 - China Girl

Lado B:
06 - Dum Dum Boys
07 - Tiny Girls
08 - Mass Production 


David Bowie - Low (1977)


O terceiro elemento dessa fase experimental e ambient de Iggy e Bowie foi o grande BRIAN ENO, que colaborou com Bowie e Tony Visconti na produção essa obra prima que dá início à 'Trilogia de Berlin' do nosso CAMALEÃO. O sintetizador de Eno é fundamental nas faixas climáticas e densas de 'Low' separado em um lado A com canções mais convencionais e o lado B com temas instrumentais e viajeira forte. A faixa mais conhecida 'Sound and Vision', cria o clima mas não o resolve, mostrando que a estrutura de 'Low' não é nada fácil de assimilar. Mas se você mergulhar fundo na depressão gélida e viciada de Bowie naqueles tempos de Berlin, a viagem é garantida.

Lado A:
01 - Speed of Life
02 - Braking Glass
03 - What in the World
04 - Sound and Vision
05 - Always Crashing in the Same Car
06 - Be My Wife
07 - A New Career in a New Town

Lado B
08 - Warszawa
09 - Art Decade
10 - Sleeping Wall
11 - Subterranean

Ouveaê!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Funky Kingston - Reggae Dancefloor Grooves [1968-1974]


Continua a nobre missão de lembrar pra galera que o reggae vai além do nosso ROBERT NESTA MARLEY. Essa coletânea matadora que resgata os sons mais GROOVEADOS de Kingston entre 1968-1974 traz um reggae diferente do que a gente tá aconstumado a ouvir, menos pegado na milonga rastafari, animado e cheio de groove e referências ao mais puro FUNK americano da época, é alegria pura em suas 20 faixas, que abrem e encerram com o grande Toots and the Maytals. Tem Lee Scratch Perry e versões de clássicos funk como Mr. Big Suff (Sister Big Stuff) e Papa Was a Rolling Stone, além de Na Na Hey Hey, que virou samba rock. E até tem uma de Bob e seus Wailers, s delícia 'Soul Almighty'. Mais um dos discos pra por quando aquele seu amigo rastafraude quiser ouvir um reggae do bom!

Funky Kingston - Reggae Dancefloor Grooves [1968-1974]

01 - Toots & The Maytals - Funky Kingston
02 - Zap Pow - Soul Revival
03 - Tomorrow's Children - Sister Big Stuff
04 - The Chosen Few - Reggae Stuff (Funky Stuff)
05 - 
Lloyd Charmers & The Hippy Boys - Look-Ka-Py-Py
06 - Jay Boys - Splendour Splash
07 - The Pioneers - Na Na Hey Hey (Kiss Him Goodbye)
08 - Ken Boothe - Is It Because Im Black
09 - Phyllis Dillon - Woman Of The Ghetto
10- Lee Perry & The Upsetters - Jungle Lion
11- A Darker Shade Of Black - Ball Of Confusion
12 - Carl Dawkins & The Wailers - Cloud Nine
13 - The Pioneers - Papa Was A Rolling Stone
14 - Tomorrow's Children - War
15 - Lloyd Parks - Stop The War Now
16 - Bob Marley & The Wailers - Soul Almighty
17 - Lloyd Charmers - Shaft
18 - Lloyd Williams - Funky Beat
19 - The Chosen Few - Do Your Thing
20 - Toots & The Maytals - Funky Funky



Ouveaê!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Talking Heads - Remain in Light (1980)


Talking Heads, tá aí uma grande banda que demorou para aparecer por aqui! Atitude punk, mas com profundidade, é o melhor dos mundos, vide o Television ou o Dead Kennedys. E o grupo de David Byrne, Jerry Harrison, Tina Heymouth e Chris Franz são a epítome do conceito 'punks de escola de arte', afinal se conheceram (menos Harrison, que era dos Modern Lovers) na Rhode Island School of Design, ainda no começo dos anos 70. Em meados da década, instalados em Nova York, começaram a exercitar suas nada convencionais idéias musicais e caíram muito bem na nascente cena punk centrada no mítico CBGB's, onde abriram shows para os Ramones. As letras e os vocais GEEKY de Byrne (muito antes dos geeks virarem moda) e o instrumental minimalista e vanguardista colocaram os Heads ao lado do Television na vertente 'art-punk'.

Seu primeiro disco, lançado em 1977 e intitulado simplesmente '77' tinha a genial 'Psycho Killer'. A entrada em cena do não menos mítico produtor BRIAN ENO a partir do segundo disco, More Songs About Buildings and Food' começou a inexorável guinada da banda para uma certa new wave 'séria' e que passou a incorporar experimentalismos e ritmos dissonantes, comelando também a busca de Byrne por ritmos exóticos, principalmente africanos. E o ápice dessa parceria sem dúvida é este Remain in Light, lançado em 1980, que superou o já altíssimo nível do anterior 'Fear of Music'.

Byrne, compositor e principal das cabeças pensantes da banda, deu mais trabalho para os outros músicos, inclusive muitos convidados, em sua tentativa de reinterpretar por sua mente de punk novaiorquino ritmos e lendas africanas. Eno deixou sua marca no impecável amálgama do art rock new wave, com ecos de Velvet Underground, aos ritmos quebrados e à espiritualidade afro, com um pronunciado groove funk. Difícil entender, né? Então o negócio é ouvir! A primeira faixa, Born Under Punches (The Heat Goes On) já mostra a que veio, com uma linha rítmica hipnótica, o vocal peculiar de Byrne e barulhinhos legais. O resto é só deleite. A música mais conhecida, 'Once in a Lifetime', tem uma percussão polirítmica from hell e um tecladinho espacial que faz a voz de Byrne fluir como água. O resto mantém o nível. Todos os oito discos lançados pelos Heads entre 1977 e 1985 são excelentes, mas esse aqui é o creme do creme!

Se liga no clipe de 'Once in a Lifetime'


e cai de cabeça no disco completo!

Talking Heads - Remain in Light (1980)

01 - Born Under Punches (The Heat Goes On)
02 - Crosseyed and Painless
03 - Houses in Motion
04 - Listening Wild
05 - Once in a Lifetime
06 - Seen and Not Seen
07 - The Great Curve
08 - The Overload

Ouveaê!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Pink Flamingos Soundtrack


Bom Gosto Trash

Pink Flamingos é um clássico trash do diretor John Waters, lançado em 1972. Seu subtítulo é "Um exercício em mau gosto". O filme conta a trajetória da traveca Divine tentando manter seu posto de Pessoa Mais Obscena do Mundo. Tudo isso vem embalado nessa trilha sonora de Rock'n'Roll velhão e Rhythm and Blues. A pegada geral é primitivista e divertida.

01. Link Wray & His Ray Men - The Swag
02. The Centurions - Intoxica
03. Lavern Baker - Jim Dandy
04. Frankie Lymon And The Teenagers - I'm Not A Juvenile Delinquent
05. Little Richard - The Girl Can't Help It
06. Bill Haley & His Comets - Ooh! Look-A There, Ain't She Pretty
07. Nite Hawks - Chicken Grabber
08. The Tune Weavers - Happy, Happy Birthday Baby
09. The Tyrones - Pink Champagne
10. The Trashmen - Surfin' Bird
11. The Robins - Riot In Cell Block #9
12. Patti Page - (How Much Is) That Doggie In The Window

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Só o Hardcore salva!


Tem horas em que você acha que esse mundo materialista-narcisista-militarista não tem jeito, que tudo é uma merda e tudo o que você sente é tédio e raiva, e você quer apenas destruir tudo. Muito provavelmente você sentiu isso quando tinha lá seus 13, 14, 15 anos, e nessa época, meu amigo, tudo o que você tem como aliado nessa luta inglória é música baraulhenta e raivosa, para acompanhar seus sentimentos. E se você foi adolescente dos anos 80 pra cá, o que provavelmente você ouvia nesses momentos de fúria era o bom e velho HARDCORE.

O termo hardcore surgiu ali pela virada dos anos 70 para os 80, na Califórnia. Os EUA criaram o rock and roll, e não foi por acaso. Nos anos 50, eles haviam criado a instituição que geraria o rock: a adolescência. Sim, até então ou você era criança ou era um jovem que já podia se alistar no Exército e lutar e morrer pelo seu país. E a adolescência surgiu como um nicho de mercado, numa época de prosperidade econômica e famílias mais liberais, no pós-Segunda Guerra Mundial. A molecada com hormônios em fúria começou a ter dinheiro no bolso, para ir no cinema, tomar milk-shake e comprar discos. Então surgiu o rock and roll. Porque os anos 50 foram também uma época de conformismo, caretice e medo, medo do comunismo, da ameaça nuclear... E a molecada com os hormônios em fúria começou a se rebelar contra o tédio e o medo, eles queriam viver, viver ao máximo, e a música barulhenta fazia parte disso tudo.

A história vocês conhecem, o rock foi devidamente enquadrado e domesticado pelo capitalismo, e nos anos 70 não representava mais nenhuma ameaça, até que, 20 anos depois da explosão inicial, uma nova explosão resetou tudo com três acordes e muito barulho: Era o Punk Rock. Que começou nos EUA, com pioneiros como Stooges e MC5, mas se consolidando apenas com uns certos Ramones. Na Inglaterra, o espertalhão Malcolm McLaren manufaturou uma banda punk chamada Sex Pistols, e muitos moleques, com os Ramones como exemplo, montaram suas próprias bandas, entre eles o The Clash, a mais política dentre elas.

De volta aos EUA, os Ramones continuavam soltando um disco clássico atrás do outro, a vertente mais pop-colorida do punk desembocava na New Wave, e os moleques mais maloqueiros e revoltados inventaram o tal do hardcore. A receita era simples: tocar mais rápido, mais barulhento e mais pesado, berrar mais alto no microfone, e fazer tudo eles mesmos. Assim, esses moleques salvaram o Rock and Roll e salvaram o mundo da monotonia total por mais duas décadas, criando as bases para tudo o que se convencionou chamar de 'rock alternativo'.

A cena hardcore começou festeira e incosequente, como era de se esperar de um bando de moleques punheteiros, mas logo foi se politizando e ganhando consistência. E três grupos lançaram, em três anos, os três discos fundamentais do estilo. Começando pela banda que injetou consciência política e refinamento sonoro (sem deixar o barulho de lado, claro) na mistura: os Dead Kennedys, do gênio Jello Biafra.

Dead Kennedys - Fresh Fruits for Rotten Vegetables (1980)


Sim, o que dizer do Jello e dos Dead Kennedys? André Barcinski já falou tudo em sua resenha de Fresh Fruits... para a discoteca básica da Bizz. Com o guitarrista East Bay Ray e o baixista Klaus Fluoride, Jello deu ao mundo essa obra prima de barulho, fúria e anarquia, com hinos do porte de Kill the Poor, Let's Lynch the Landlord, Drug Me, California Uber Alles e Holiday in Cambodia, apontando sua metralhadora giratória verbal para todas as formas de hipocrisia da sociedade americana. E musicalmente, o disco se mantém fiel aos mandamentos hardcore, porém com alguma sofisticação, graças principalmente à guitarra matadora de East Bay Ray. Rolam até uns solos, além de riffs memoráveis como o de Holiday in Cambodia, que com 4 minutos e meio era uma verdadeira peça sinfônica para os padrões hardcore. E ainda termina com uma versão matadora de 'Viva Las Vegas'! Fiel ao 'faça você mesmo', Jello e seus asseclas lançaram o disco pela sua própria gravadora, a Alternative Tentacles.

Faixas:
01 - Kill the Poor
02 - Forward to Dath
03 - When Ya Get Drafted
04 - Let's Lynch the Landlord
05 - Drug Me
06 - Your Emotions
07 - Chemical Warfare
08 - California Über Alles
09 - I Kill Children
10 - Stealing People's Mail
11 - Funland At The Beach
12 - Ill In The Head
13 - Holiday in Cambodia
14 - Viva Las Vegas

Ouveaê!

Ainda antes do Dead Kennedys, o Black Flag, cria de outro gênio, Greg Ginn, já agitava a Califórnia com seu barulho divertido e incosequente. Mas foi apenas com a adição de outro gênio, o vocalista e PROVOCADOR NATO Henry Rollins, eles conseguiram o seu lugar no panteão, em 1981.

Black Flag - Damaged (1981)




A ferocidade sem limites do vocal de Rollins foi o ingrediente que faltava, e Damaged, o primeiro LP do Black Flag, é uma obra-prima instantânea da fúria hardcore. Porradaria, barulheira, raiva, e sim, bom humor, percorrem todo o disco. As letras de Ginn tinham tudo que se esperava do melhor hardocore: o sentimento de tédio e alienação dos adolescentes, apenas amenizado por bebedeiras, televisão e música barulhenta. A faixa mais conhecida, a emblemática 'TV Party' resumia tudo. O restante das 15 faixas segue a toada, e Damaged talvez seja o disco mais representativo da cena. Lançado em cassete pela gloriosa SST Records, gravadora fundada por Ginn e que deu ao mundo bandas como Hüsker Dü, Sonic Youth, Minuteman e Meat Puppets.

Faixas:
01 - Rise Above
02 - Spray Paint
03 - Six Pack
04 - What I See
05 - TV Party
06 - Thristy and Miserable
07 - Police Story
08 - Gimme Gimme Gimme
09 - Depression
10 - Room 13
11 - Damaged II
12 - No More
13 - Padded Cell
14 - Life of Pain
15 - Damaged I

Ouveaê!

Bad Brains - Bad Brains (1982)





Mas a banda mais bizarra e original da cena hardcore do inicio dos 80s sem dúvida é o Bad Brains. Produto da mente doentia de quatro negões rastas de Washington, D.C: Dr. Know, H.R., Darryl Jennifer e Earl Huston, o Bad Brains fez a improvável ponte entre o mais puro hardcore e o reggae, com um ainda mais improvável tempero Jazz.

Lançado em 1982, também em cassete, pela lendária gravadora ROIR, o álbum de estreia dos Bad Brains é considerado por gente como Adam Yauch, dos Beatie Boys, o melhor álbum da história do hardcore americano. Dr. Know, guitarrista de jazz fusion, rasta fã de Bob Marley mas admirador da fúria punk, percebeu que os dois estilos tinham coisas em comum, chamou amigos músicos com idéias similares e montou a banda que começou a ganhar fãs e lendas com seus shows inacreditáveis. Gravaram alguns singles difíceis de achar, como Pay to Cum, e lançaram o cassete que virou objeto de desejo e reeditado em CD diversas vezes. Ali está toda a demência dos quatro rastas, com as pesadas e rápidas Sailin' On, Attitude e Banned in D.C. e, quem diria, reggaes com pitadas dub delícia como I Luv I Jah e Jah Calling. Eles construíram uma respeitada carreira com discos como I Against I, lançado em 1986 pela SST, e shows cheios de energia, e hoje estão merecidamente na santíssima trindade do hardcore ao lado do Black Flag e do Dead Kennedys.

Faixas:

1. Sailin' On
2. Don't Need It
3. Attitude
4. The Regulator
5. Banned in D.C.
6. Jah Calling
7. Supertouch/Shitfit
8. Leaving Babylon
9. F.V.K. (Fearless Vampire Killers)
10. I
11. Big Take Over
12. Pay to Cum
13. Right Brigade
14. I Luv I Jah
15. Intro
Ouveaê!

Estas são as três pedras fundamentais do hardcore, e tudo de bom que veio depois no rock americano, toda a linhagem alternativa/indie/grunge, o skacore, o trash metal, e sim, o tal hardcore melódico que descambou para o famigerado EMO, não existiriam sem essas três bandas que demarcaram o que os moleques entediados e revoltados deste mundo querem ouvir: Barulho, mas barulho com substância.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Squirrel Nut Zippers, a banda oficial da Cerca Frango

Mas como ainda não tinha Squirrel Nut Zippers nessa pocilga? Nem o Cróvis, o descobridor da banda e IDEALIZADOR deste blog, tinha colocado ainda... Bem, antes tarde do que nunca! Enfim, o Cróvis descobriu esse grupo de RETROSWING (sic) da valorosa cidade de Chapel Hill, North Carolina, com a faixa 'Hell', que fez parte da trilha sonora do filme 'Por Uma Vida Menos Ordinária', de Danny Boyle, cujo CD ele comprou em seu intercâmbio no mais puro MISSOURI.

Bem, o som do SNZ (não confundir com o trio de SARAH SHEEVA, NANA SHARA E ZABELÊ) é um tributo aquele sonzito que embalou muitas noitadas com álcool ilegal durante a lei seca dos anos 20 e que alguém (não lembro quem) considera MÚSICA DE DESENHO ANIMADO. Hot Jazz, gipsy e swing entram na mistura, com pitadas de CARIBE e LESTE EUROPEU. Ou seja, só alegria, tanto com as músicas mais SMOOTH cantadas pela maravilhosa Katherine Whalen quanto as mais animadas, verdadeiras músicas de bebedeira. Não é a toa que a discografia do Squirrel Nut Zippers era presença sonora da trilha de fundo da saudosa MARACANGALHA, principalmente nas noites de terça-feira. E a mais animada de todas, a RUSSA Ghost of Stephen Foster, virou um HIT ECANO nas festinhas de arromba da ECA de 2003 em diante.


Os Squirrels lançaram seis discos entre 1995 e 2000, quando entraram em HIATO. Voltaram apenas em 2007, com a história oficial de que haviam SE PERDIDO NO MAR, lançaram o disco ao vivo 'Lost at Sea' e seguem em turnê com shows animadíssimos que, se A GENTE QUISER, pode vir ao Brasil, porque não?

do catálogo do SNZ, dois discos se destacam:

Squirrel Nut Zippers - Hot (1998)



O segundo disco dos Squirrels tinha o hit 'Hell', a crássica 'Put a Lid on It' e a belíssima 'Blue Angel', com o vocal insado de Catherine Wheelen, entre outras pérolas, com letras bem humoradas e a levadinha swing impossível de não se gostar.

01 - Got My Own Thing Now
02 - Put a Lid on It
03 - Memphis Exorcism
04 - Twilight
05 - It Ain't You
06 - Prince Nez
07 - Hell
08 - Meant To Be
09 - Bad Businessman
10 - Flight of the Passing Fancy
11 - Blue Angel
12 - The Interlocutor

Ouveaê!

Squirrel Nut Zippers - Perennial Favorites (2000)


Além da supracitada 'Ghost of Stephen Foster' tem mais um punhado de ótimos e divertidos swings. Destaque para 'Suits are Picking Up the Bill', 'Fat Cats Keep Getting Fatter' e 'Evening at Lafite's. Os anos 20 devem ter sido realmente muito divertidos...

01 - Suits Are Picking Up the Bill
02 - Low Down Man
03 - Ghost of Stephen Foster
04 - Fallin' With Al
05 - Fat Cat Keeps Getting Fatter
06 - Trou Macacq
07 - My Drag
08 - Soon
09 - Evening at Lafite's
10 - The Kracken
11 - That Fascinating Thing
12 - It's Over

Ouveaê!

Os outros discos tem boas músicas mas são mais desiguais. E claro, pra ter um gostinho de como é um show dos figuras, deve-se ouvir o ao vivo 'Lost at Sea'.

Pior que eu ainda não ouvi! Vou baixar agora, e sugiro que vcs façam o mesmo...

01. Memphis Exorcism
02. Good Enough for Grandad
03. It Ain’t You
04. Prince Nez
05. Put a Lid on It
06. Fat Cat Keeps Getting Fatter
07. Danny Diamond
08. Suits Are Picking Up the Bill
09. My Drag
10. Happens All the Time
11. Bad Businessman
12. Hell
13. Ghost of Stephen Foster
14. You Are My Radio
15. Blue Angel
16. Do What
17. Missing Link Parade



Ouveaê!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Jazz japonês é coisa muito séria


No último mês, o Japão ocupou as manchetes pela tragédia do terremoto seguido de tsunami e desastre nuclear. Completando um mês do terremoto, farei uma homenagem ao bravo povo nipônico através de um assunto inusitado: a insana cena jazz que se desenvolveu na terra do sol nascente entre as décadas de 60 e 70, exemplarmente garimpadas pelo sensacional blog ORGY IN RHYTHM (de quem respeitosamente surrupio os links.)

Após a Segunda Guerra Mundial, o trauma de Hiroshima e Nagasaki e a impensável rendição, o Japão se transformou. Ajudados financeiramente pelo ex-inimigo norte-americano, a economia do país explodiu a partir dos anos 50, e a influência cultural americana se disseminou na tradicional cultura nipônica. Entre as centenas de sub-culturas, algumas mutcholocas, que se desenvolveram no Japão do pós-guerra, o culto ao jazz é uma das mais duradouras. E, a partir dos anos 60, com o rock e o pop dominando a música americana, muitos jazzistas foram para a Europa e o Japão, onde o jazz ainda era consumido com ardor. E, com sua tão falada dedicação e disciplina, alguns japas começaram a tocar jazz e se tornaram mestres quase no mesmo nível dos americanos. O estilo desse jazz japa seventies é meio que uma continuação do que o jazz EUA fazia antes de cair no ostracismo no país natal: um POST HARD BOP MEETS AVANT GARDE, Free Jazz, Fusion, etc, e um subgênero que se tornou muito popular em terras nipônicas foi o jazz rock, releitura jazzy com tempero bossa-nova de sucessos do rock da época.

Um dos grandes jazzeiros japas é o saxofonista SADAO WATANABE, cujo Swiss Air, gravado ao vivo em Montreaux em  1975, eu já coloquei aqui. Então vamos explorar alguns outros, começando pelo monstruoso trompetista TERUMASA HINO.

Hino = Kikuchi Quintet (1968)


Aqui, nosso amiho Hino se junta ao pianista Massabuni Kikuchi para uma session de hard bop para levantar aquele proverbial defunto. Quebradeira! As quatro músicas compostas por Kikuchi soam como as obras primas modais do quinteto de Miles Davis nos anos 60. Arranjos, introduções e a sessão rítmica do quinteto formam a base perfeita para os vôos solo de Hino e Kikuchi. Coisa finíssima! Como de hábito nos posts do Orgy in Rhythm, o disco foi rpado do original em vinil na maior qualidade possível, 320 kbps. 

Faixas:
01 - Tender Passion
02 - Ideal Postrait
03 - Long Trip
04 - H.G. and Pretty


Mal Waldron - Terumasa Hino - Reminiscent Suite (1972)
Aqui é o americano Mal Waldron que assume o piano ao lado do nosso HINO, para duas longas e magistrais suites que ocupam cada uma um lado do vinil, que nunca foi relançado e é uma raridade, mesmo no Japão. O lado A, faixa-título, começa com a mão pesada (no melhor sentido possível) de Waldron debulhando o piano, e evolui com os impecáveis solos de Hino e do resto da banda com destaque para o sax tenor de Takao Uematsu, quebrando tudo e desconstruindo o tema até a música se tornar uma balada moody reflexiva, num total de 23 minutos de puro deleite sonoro. O lado B, Black Forest, começa com uam percussão from hell e flautinhas fritas, seguidas pelo piano de Waldron dando o tema, no compasso 6/8, até a entrada triunfal dos sopros de Hino e Uematsu, com solos inacreditavelmente belos. O resto da banda também aparece e faz seus solos nos mais de 18 minutos de sonzeira. Outra pepita!

Faixas:
01 - Reminiscent Suite
02 - Black Forest


Miyamoto, Naosuke Sextet (1973)


Mudando um pouco os personagem, temos outra pepita, esta perpretada pelo baixista Miyamoto e seu sexteto formado por Kunji Shigi (trompete e flugelhorn), Takashi Furya (sax alto), Takeshi Goto (sax soprano e tenor), Masayoshi Yaneda (piano) e Shoji Nakayama (bateria). Mais uma session do mais fino post hard bop modal. Todas as cinco faixas são matadoras, com destaque para a sublime homenagem a John Coltrane em 'One for Trane'. Já veterano da cena jazz japa, ativo desde o início dos anos 60, Miyamoto monstou esses sexteto com alguns bem jovens e outros mais velhos, mas todos excelentes, e deu ao mundo mais uma obra prima do jazz de olho puxado. 

Faixas: 
01 - Step Right Up to the Bottom
02 - One for Trane
03 - A New Shade of Blue
04 - Where Do They Go?
05 - Blues


Norio Maeda & Jiro Inagaki All-Stars - This is Jazz-Rock (1968)


Parte da série Ready-Made Jazz Rock da gravadora Columbia Japan, esse disco é um bom exemplo do tal jazz rock. Mais acessível do que as pirações post hard bop modais dos discos anteriores, This is Jazz Rock entrega o que promete: versões jazzy-bossa de clássicos do rock e do fusion. Quem lidera a brincadeira são Maeda (órgão Hammond) e Inagaki (sax tenor), acompanhados por trompete, guitarra, baixo, bateria e percussão. Versões de Watermelon Man (Herbie Hancock), House of the Rising Sun (The Animals), Day Tripper (Beatles) e Pata Pata (Mirian Makeba) proporcionam a alegria sonora. 

Faixas:
01 - Pata Pata
02 - Mercy, Mercy, Mercy 
03 - Day Tripper
04 - Snap Shot
05 - My Girl
06 - Boom Boom
07 - Watermelon Man
08 - Barock 
09 - House of the Rising Sun
10 - Go Go a Go Go
11 - Soil Finger
12 - Here, There and Everywhere


E por hoje é só! Arigatô, Sayonara!